13.8.05

outras notas avulsas. caderno de viagem.



esse navio é meu corpo: ele cospe fumaça, gira as pás no lá embaixo da água, avança: um barco bêbado, não um navio-fantasma, não um navio-neblina. um navio-corpo meio perdido, desmembrado, desencouraçado se é de coração que se fazem rebites. navego nessa noite, que é meu medo, nem vejo torres de luz, pavilhões, mirantes, só esse convés meio gasto, cheio de betume, veneno, escuro e friagem. mas que espera entre o cais e o navio, quanta saudades mareadas entre o atracar e o me perder no teu porto, na tua boca. mil línguas submarinas lambem o casco dessa nau, águas-vivas, arraias seguem de longe os rastros dessa madeira. preciso trabalhar muito para afundar os desejos de você como quem afunda velhos navios, embora eu precise, como tantos lobos do mar, ficar e morrer. ou quem sabe, o sol se levante da baía, as âncoras interrompam essa viagem sem norte. e botes, vindos de não sei que terra, encostem nas escadas de corda e tragam você para dentro de mim.

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