19.9.05

notas. ríspidas. frenético.


o cansaço de uma lástima, agora mais de dentro do que nunca, tenho certa dificuldade pra lidar com sentimentos, esses meio cremosos-macios, como que feitos de embalagens de luxo, dessas caixas com laço vermelho, desatadas & vazias, que nos fazem chorar à meia-noite só de olhar pra sua vaziez, não do que estava dentro, mas da presença dessa memória do antes, daquilo que tanto estava aqui causando esse sentimento, que não pego nem levo, mas sinto me roçando dessa maneira que já disse, meio macia, meio cremosa, talvez áspera, às vezes, como deve ser o roçar de um rosto contra uma barba por fazer, de um homem por fazer, que só faz amor por fazer porque tudo está por ser feito, inclusive o próprio amor, que só se sabe de um jeito ríspido e áspero, mais agudo que a barba crescendo, mais duro que os ferros do portão que eu bato com força chegando da rua furioso, molhado porque a chuva me pegou desprevenido e me pegou também pensando em você e foi me molhando e dissolvendo tudo que eu pensava e fiquei com ódio de são pedro que quis me dissolver o pensamento e me deixou branco branco igual aquela nuvem que era branca agora cinza e que agora mija em cima de mim toda a água que guardou lá em cima, como se fosse terapia pra tanta mágoa guardada que uma hora a nuvem vomita e vomita e vomita e todo mundo analisa como tempestade, trovão, sinal, condensação, sei lá o que mais dizem dos níveis pluviométricos da região, mas que sempre dão um ar de dilúvio e transtorno como se já não fosse transtorno essa minha vida aqui sentando na sala ouvindo o que estou descobrindo aos poucos e que me faz gostar ainda mais de ficar sentado porque parece que vai me empurrando e me espremendo porque é um tanto ácido, acid jazz, nina simone cantando, ai que coisa, a chuva que não pára. me dá vontades de ser sereia, sair descambando no encantamento tanta nau e tanto marinheiro, destroçando, destroçando sem coisa cremosa nem macia, só meu cappuccino no balcão que me faz bigodes de chantilly se eu me arrisco com a boca na xícara.

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