20.10.05

correspondências.amor de ana.



my dear,
fica difícil escrever cartas tendo ana como mentora. ela reconhece meus acidentes tipográficos e não perdoa essa leitura de estilo. quando muito me recrimina por mal disfarçar tantos dados biográficos. diz que eu preciso ser mais fingido e dizer o que não devo da forma que se deve: com desvelo e técnica. 'coloca as luvas, não toca tão diretamente nesse material bruto que é a vida. descalça vez ou o outra as mãos e toca de leve, furtivo, cleptomaníaco no coração', é o que é me diz sempre. e não é porque eu não a ouça. faço isso com muita atenção e até consigo burlar tantas leituras de mim. só que não consigo ficar sem dizer o que verdadeiramente quero, me agarro no que vem de dentro. eu ainda sou aprendiz. me perdoa se as cartas ainda parecem ter destinatário certo. estou longe de tua impessoalidade. nem sei se posso dizer isso pra você, tão artista plástica e tão dona da palavra.
e eu perguntaria pra você, agora, como eu faço pra escrever sobre quem me deixa, de lado, pra trás, de imprevisto. como escrever sem fazer uma queixa, mas mostrar que o lado contrário é o melhor, esse mais próximo do peito? como dizer tudo pra quem eu quero, sem ser pra ninguém mesmo, nem pra mim? como fazer do abstrato do amor essa arte técnica sem improviso? me conta bem ao pé do ouvido, quero escutar. e saber se ainda me escuta.
beijos.

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