20.11.05

anotações: junkie afternoon.



eu queria sumir. desaparecer debaixo do asfalto. me deitar na calçada e virar ladrilho, na rua, virar paralelepípedo. me tornar qualquer coisa que não seja eu mesmo. nem consigo me olhar no espelho: já os cobri, já os escondi. não tenho vontade de sair do meu quarto, fico na penumbra, respirando um ar viciado, me drogando inteiro dessa coisa pastosa, dessa mágoa que me enjoa. e parece que ainda te vejo pelos cantos, subindo e descendo as escadas, aos encontros, aos beijos. e ainda sinto a sede da garganta, a vontade de cuspir essa coisa grudenta, que me arrepia.quanta ânsia de vômito eu não sinto agora. e me vejo tão preso nas paredes do quarto, tão perdido no colapso do tempo, tão enganado pelos desrrumos do sempre. que destino é esse que me faz acordar todos os dias o mesmo e sempre em busca. esqueço o que é interrogação se toda vez que me pergunto não tenho resposta alguma. não tenho a mínima resposta do porquê eu fico tão triste se pressinto o olho da janela me encarando, o olho anfíbio da lua lá em cima. sim, eu sei, estou falhando, saindo fora de órbita. estrela cadente, astrolábio, beija meus lábios, me deixa contente. que tristeza me torna invisível e sem graça: porque eu morri: ninguém me vê. e essa coisa pastosa de novo, a boca machucada de tanta mordida e cusparada. queria tirar essa coisa que me faz mal, me faz ter idéias simbólicas, sentimentais demais. eu queria tirar o amor do coração.
entidade monetária que não tem valor algum nesse mundo doente.
e que me deixa doente
a ponto de morrer
morrer
e continuar morrendo
todos os dias
todos os dias, por amor.

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