6.11.05

diário de viagem. marats.


entrei em casa moderadamente silencioso. piso com cuidado nesse piso de madeira que dá estalos. todos dormem, mas não estão. todos dormem e não estão aqui. não há ninguém. e mesmo assim entro desse modo esguio, não de outro. mesmo ao beber água, dou goles suaves para não fazer barulho. e limpo meu rosto com uma toalha molhada, porque é mais comedido. não devo colocar as coisas em movimento, posso acordar alguém. sei que é proibido e não devo. não devem saber que eu entrei, que estou em casa e de volta. mesmo que nem saibam que eu saí e que estive tão longe quanto a distância permite. mesmo que nem tenham percebido que minha mudez era loucura, que meu isolamento era tortura. e mesmo que pudessem, quem me ouviria mesmo aqui, tão perto? prefiro recolher esse cacos, esses estilhaços de corpo em outro lugar, onde não podem me ver, nem me tocar, nem saber que estou sangrando. e que ensanguentado, perco o mundo, o chão e as paredes. e agora, o que? trincos, fechaduras, chaves: pouso tudo com esmero. ninguém sabe, mas voltei. nem sei há quantos dias estava fora de mim, nem sei quantos de mim vieram me ver. o amor é espírita, só isso que eu sei.

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