my dear,
sim, sou eu quem escrevo estas cartas, estas missivas sem solidariedade alguma. e eu nem escrevo pra você, escrevo muito mais pra mim, já que nunca, quase nunca envio minhas cartas. elas ficam todas prontas e com os selos todos lambidos. é bem verdade que gostaria que as lesse, que tivesse realmente notícias minhas, mas não há nada de novo. nada do que já não saiba. e tenho medo de comunicar futilidades. e tenho receio de dizer tudo que já sabe: que não se passa nenhum dia sem que eu pense em você e nas coisas que pensávamos em fazer. e me pergunto por que desistiu de tudo se me amava? se fico sabendo da boca de outros que tanto gostava do que eu te dizia e do quanto eu te dizia que queria ser teu. e fico triste porque desdiz tudo que ouço, e fica assim, à distância, sempre arrumando compromissos ou saídas instantâneas quando quero estar contigo. hoje me coloco tão triste, talvez porque seja domingo, o mais inteiro de todos os dias tristes. ou talvez porque seja um daqueles dias que gostaria de ter passeado contigo na praia, tomado banho de mar, rolado na areia. um dia pra chegar tarde em casa e também bronzeado, tão colorido como a pele de um deus. depois nós dois num banho tão colado e tão molhado de bocas queimadas e ainda salgadas para logo mais tarde uma noite inteira de amor, sabe lá em que canto da casa. e sabe que digo isso como se fosse verdade, porque eu quero que seja, com muita valentia, eu quero que seja. no entanto, honey, com tristeza eu te vejo não querendo saber destes meus desejos, que eram tão nossos e agora só meus. eu faria tudo pra trazer você pra cá, e agora me trata como quem tem medo de caprichos ou truques de conquista. eu não me invento na mesma sedução dos gatos, mas eu me faço por esse desejo tão intenso e estrelado que é amar você. por favor, venha, faça retorno porque eu te espero. [sem demora, sem demora porque eu tanto te quero].
bergamin, b.
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