5.12.05

correspondências: viagem mística.


eu precisei fazer uma viagem do ocidente ao oriente, tive que me perder nas geleiras do ártico, tive que estar tão longe de tudo. caminhava perdido pela antiga índia, respirando incensos, fazendo mantras, deitando em mantas, camas de faquir, encantando cobras. eu precisei adorar as vacas, me banhar em rios sagrados, contaminados e imundos. eu precisava: recuperar aquilo que se perdeu pra sempre, aquele amor próprio, aquela aura de sempre estar bem. eu queria voltar àquela realidade temporal, ponctual, onde eu podia ser feliz sem você. mas veio esse encontro, essa destruição, esse me deixar só, com medo do escuro, dos fantasmas, da solidão. e pra te entender, eu precisei conhecer o ártico e saber de onde vem teu coração: se eu pudesse derretê-lo, talvez. então mastiguei pedaços de gelo pra ver se sentia teu gosto neles. e era mesmo desse modo que eu te sentia: uma coisa fria que me gelava todo por dentro, me deixava roxo e sem graça. meu lábios foram ficando murchos e queimados, nem os olhava no espelho, nem os amava, nem me amava. nem nada. entrei num bote e remei com as mãos até o oceano índico. lá eu me perdi, pedi pra me encontrar outra vez. está acabado, dear. eu te trouxe comigo, um pedaço de você, uma lasca de iceberg. e ela derreteu no fundo da embarcação: a água que empoçou eu pisei, lambi, cuspi. não quero mais saber notícias, nem que vá atrás de mim, se por acaso ainda se arrepender. eu preciso mais de mim do que você. eu quero meu tempo de volta e todos todos os meus sonhos também.

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