19.1.06

memórias > parte água.


difícil me libertar dessas memórias, desses desejos de ser água, líquido, de me escorrer todo, mas também de fazer limo. quanta poesia não há nessa memórias, quantas vontades não me fizeram a história ficar pelo avesso, tão ao contrário, tão ao inverso quanto possível. e não venha me dizer que posso mudar o curso do rio, agora que sou aquoso e me prendo, todo e violento, quem sabe de arrepio, às margens que ladeiam esse meu leito. esse duplo que é minha cama e o meu rio; eu me desfaço, me molho, fico suado, disfarço. só para que não perceba o quanto já estou vazio: eu evaporo, me levanto, venho de sopro, me deito de novo. e talvez não perceba que sou a chuva que te molha, a água que tu engole, o suor que tu transpira, aquilo que você cospe. estou no seu corpo, amor, até mesmo dentro dos ossos. e quantas memórias já inteiras, tão prontas, tão nossas. que vontade de ser água, que vontade de correr, descer, virar enchente, arrasar com tudo. tudo pra dizer que estou me fazendo mar, fazendo o mar, fazendo o amor. [solta essas cordas, vem se afogar nas minhas águas que recorda, nas minhas memórias tão límpidas]

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