10.4.06

caderno de apontamentos.


não pára de chover. aproveito enquanto olho pela janela assim, com cara triste de filme americano, aproveito pra pensar [circunstância também óbvia: chuva tem alguma relação direta com a filosofia, a metafísica, a crise existencial?]. acho que estou clichê hoje. acordei assim. e sei lá o que anda acontecendo: ataque hipocondríaco de novo? tenho sentido uma dormência nas costas. segundo os resultados de busca com esse sintoma, estou de mal a pior. coluna tem algo de psicanalítico, psicossomático? grandes atribuições, peso [não o da consciência, essa tão limpa]. revelação óbvia. signo touro: o burro de carga do universo. mais tarde aula do professor super star. modernidades. li todo a ementa da disciplina. chegou a me dar tonturas. e eu com esse meu amor nada moderno, antiquado, com jeito de século retrasado. será que nasci na época certa, mas com o coração errado? ninguém mais escreveu. teria sido eu áspero, ríspido demais? que medo de me confessar e dizer REALMENTE tudo o que penso [e sinto e digo e faço e vivo].

[...] intervalo de página [...] seis horas depois

anotações de aula: reencontro velhas antipatias. já não lhe ocorreu de desgostar prontamente de alguém? já nem crio resistência, me rendo todo a esse não ir de cara com o focinho. noção de clássico: o homem se mede com o divino. modernidade: postulação da melancolia como dimensão estética. varitas: natureza morta: still life, living. palavras de breton: "o belo será convulsão ou não será". acho que estou tendo nostalgias, recuperando passados. l'âge d'or me deixou com dor de cabeça. a solidão do escorpião, chute gratuito ao cachorro, vaca na cama, a mulher chupa os dedões de minerva. [símbolos, símbolos, parafernália surrealista me dando enxaqueca]. aimant, em francês significa imã e amante. estou ficando atraído e traído [nem olho pra trás]. deixo o pensamento correr solto por cinco minutos. resultado: leitura de bataille em resposta a alejo carpentier e nem entendi o propósito. plataforma de canibalismo, antropofagia dadá. kant com sade [ver lacan]. proposta; reconstrução do todo a partir do fragmento [de minhas diversas faces de disfarce]. não vou contar, mas acho que estou roçando em bataille. uma garota num canto com cara de rato, feminista ultra-radical, de poucos amigos. logo do meu lado, uma velhota com cara de like a virgin. mas os estudos culturais perseguem a destruição da metafísica. o culturarismo naïf. conversa infinita de blanchot. [descobri que escrever é uma possessão, uma obsessão, não posso parar. e fico com vontade louca de escrever até nos postes, nos cachorros, nos carros, no pão da padaria]. rimbaud: une saison en enfer. alucinação e vertigem detonam a compreensão do presente. será que andei pensando nas cartas como um outro procedimento da verdade, como uma expressão estrangeira da linguagem [e da própria verdade?]. lembrar de escrever pra honey. a beleza só pode sr uma espasmódica sucessão de saltos. a comunicação barata sufoca a memória. palavra de ordem: selecionar e esquecer; esquecer porém recombinar.
acho que é mesmo super star. ficou um pouco de medo agora: será que eu me arrisco, me faço desafio de ficar? ando precisando sair um pouco das normas. fazer loucuras [também de amor]

Um comentário:

Anônimo disse...

Tbem ando precisando fazer certas loucuras...
Otima terça a vc
Abração!

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