5.4.06

correspondências > extravios, ordem b.


honey,

mal acabei de me deitar e os pensamentos aparecem. levanto logo para escrever tuas cartas, nossas cartas. talvez sem artifício algum, porque não importa qual palavra ao inverso eu diga, estamos no mesmo movimento de paralisia: você aí, eu aqui. solidões, corações. eu tenho medo do escuro, não disse antes? pensei que tivesse. e agora ouço esses barulhos na madeira, piso de taco, cortina, as sombras do meu próprio pensamento. coração batendo, tum tum tum, fecho os olhos, rezo. por que é que não fica aqui pra me ver dormir? tenho estado triste porque sinto que está me despistando, inventando falsas cartas, quase cuspindo nos selos. nem é mais aquela lambida que fecha os lacres com tanto amor. antes era um celofane de almas, agora, parece que tudo vai endurecendo, virando argamassa. tenho tentado ficar calmo, mas o ar vai ficando apertado no peito, vou te amando até com os pulmões. fico um pouco chateado, também, quando me faz perguntas que já sabe a resposta. repetir parece questão de desconfiança. ainda tem? não deveria. eu que fico aqui pulsando no ritmo do sonho, desconfiando que tua razão traga indícios, escapadas de rabo de olho, bagagem toda pronta. eu: angústia & sofrimento & delírios do desejo. que coisas tontas me passam pela cabeça na madrugada. acho que isso não tem outro nome não, impossível não ser redundante: amor, eu te nomeio.

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