2.4.06

correspondências intermináveis.


my dear,

viver nesta ilha, para que entenda bem o que eu sinto, é o mesmo que viver no exílio. sinto falta de tantas coisas e pessoas e alegrias. e não é apenas uma reclamação infantil e intransigente: quase nada cruza a ponte e eu não me arrisco a atravessá-lo de novo. aqui foi desterro, cidade antiga, mas embora o nome tenha sido alterado, é impossível esquecer a presença fantasmática do que soa como um enterro. um nome assombrando assim nossos ouvidos, só pode nos deixar mais tristes. dear, aqui eu virei um contador de histórias ao modo do que seriam os heróicos marinheiros mercantes. e mesmo não tendo vivido na bravura do mar e das terras distantes, e, sim, vindo da terra bruta e infame, parece que eu vim da própria história líquida e das suas tênues fronteiras de deslize. e não sabe o quanto é dolorido recontar o passado e recortar o coração contra a tela da memória. essa ilha é tão bêbada quanto um barco bêbado. e quem vive aqui não encontra caminho algum.

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