31.8.06

correspondência intratável.


my dear,

enquanto demorava a chegar, mexi nas suas coisas, nas minhas cartas que enviei a você. sim, são suas coisas. porque estão contigo, são minha intimidade-objeto que você guarda. e me dou conta agora, relendo algumas dessas laudas noticiosas, que não me reconheço nessas linhas. é muito fingimento. não, não sou eu. e quando eu sou, não sei se você sabe ou adivinha. de qualquer modo nunca me disse nada. talvez as palavras não te incomodem tanto. não tanto quanto a mim. e o que eu faço com essa minha vida que não se traduz na escrita, mas só me transluz em reflexos de prata? o discurso que te entrego não é uma impressão, mas uma expressão biográfica - um jogo, um estilo, um apurado de técnica. espero que não me culpe pela falta de verdade. as cartas não mentem jamais, as mentirosas são as metáforas que refratam os espelhos do eu. aprenda que o sincero do papel não pode ser o sincero da vida. não pode e nunca vai ser do mesmo naipe. copas ou espadas. o cotidiano é cruel demais, baby. e eu, intuitivamente, escrevo apenas o que esperam de mim. o caminho entre a experiência e a representação é uma armadilha, uma armadura. você me sabe? não sei. pra mim é assim depois: não sei mais quem me escreveu. se eu ou o corifeu. acho que o mais importante de tudo é que você não me questiona. aceita tudo incondicionalmente. isso é amor a mim e falta de amor pela crítica. ainda bem que não me revira nem me psicanalisa. e seria um perigo encenado porque nessas palavras não tem nem sequer meu fantasma. escapo da pauta e só faço poesia. com alguma das minhas cinco vozes metidas a mentidas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Preciso dizer que amei?

Anônimo disse...

preciso conversar contigo. sinto saudade e um pouco de angústia.
um beijo. te procuro durante a semana porque não tenho créditos, ok?


beijos.

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