10.8.06

correspondências do rio (ll)


honey,

vejo sombras úmidas na janela. os morros se enchem de neblina, chuvisco. tudo em volta é água, um marejar, um gosto de sal. o mar é uma saudade. e não recebo notícias, notas ou postais seus. faço dramas (barrocos), cheios de dobras e contrastes, tão logo me deito na cama e me artefaço no teu nome. embora lá fora: prédios, carros, igrejas velhas. no hotel, o teto é branco, os móveis são brancos, a banheira é branca, mas a água, azul. a cidade atrás da janela, rugindo sirenes e sirenas mortas, me parece cinza e suja, suja e negra, rubro-negra. os perigos da metrópole: alguém morre, alguém se apaixona, alguém parte. fecho os olhos e tudo é branco no meu quarto. um motor rosna a noite toda, um leão devora uma criança. o cristo de braços abertos, a violência das águas de copacabana, a violência nas areias do flamengo. indefinidas, pouco definidas. cenas de passagem. fecho os olhos: os museus fecham as portas, a ruas recuam, as luzes se apagam. é a estrada de volta. e a saudade, amor, nos palcos de uma tragédia carioca.

Nenhum comentário:

Pesquisar o malote