26.9.06

as borboletas.


sweetheart,

quando eu voltava pra casa hoje eu vi um casulo caído no chão. dele uma borboleta escapava sensualmente, mas ainda assim feia. (pequeno prelúdio insignificante de vida para depois tornar-se, quem sabe, a mais linda borboleta azul brilhante). quando cheguei em casa comecei a colocar em ordem meu espírito. o quarto estava uma bagunça de livros e tênis e armários e cobertores espalhados. a alma se organiza primeiro com o de fora, depois com o de dentro, sabe-se. e encontrei a caixa, presente teu. penso muito em abrir, mas tenho medo que as pipas japonesas se estraguem com o tempo. penso demais no estrago delicado de pandora e no papel fino das pipas. uma seda de cartas sem envio feitas de vento. na escrita e nas pipas eu posso voar, vencer meu medo de altura. tudo ficando tão baixo e pequeno perto do que um vôo longe pode alcançar. abrir uma caixa pode ser um gatilho, um tiro no escuro à queima-roupa. também pode ser um cerol na garganta, riscos de vidros e gatilhos, juras de amor suicida, kamikaze. abrir a caixa dos males, abrir a caixa dos vôos. não sinto enjôo nem mágoa, tenho medo apenas. de cima de um prédio já é possível conhecer a solidão, no azul púrpuro do céu, uma borboleta é uma solidão. mas é linda. brilhante. sem amor à violência de amor, mas afeita a uma leveza de asas finas, de folhas lindas como os papéis dos rostos das pipas. e perde-se logo o medo, não puxo mais os cobertores até os queixos e me deixo levar pelo vento. não, baby, não há nada de ameaçador lá fora. então eu abro a caixa: voam pipas e borboletas e amor de dentro de mim. (entregue-se também ao fluxus)

Um comentário:

Anônimo disse...

bastante poetico e sincero...

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