23.10.06

carta musical


my dear,

refiz teus poemas, invadi teus versos, inventei rimas no verso da folha. foi a ousadia de um ouvinte bêbado, sem ouvido para música, sem tino para canção. o acorde saiu de acordo, acho. mas não me culpe se fiz tudo pelo avesso, explorando teu desejo fortuito. pode escolher as dissonâncias que quiser: eis o recado do violão. por trás, um crescendo de piano que não sei nem. quis aprender violino uma vez, mas foi sem começo. as claves me parecem chaves, a música uma fechadura. você me dá idéias, mas eu não tenho a mínima idéia do que te dar em troca. fiz uma composição musical, sem escultura, leve moldura rasa, que espero que não rasgue, nem rompa na tela da pintura. puro trabalho de cordas, saiba bem. se não reinventei o teu mundo, fiz de tudo para, com um som fundo, de lá de longe, daqui de dentro. sua música é da cidade de dentro, um interior, um afora, mas é feita da mesma forma que a minha, daqui de fora. só não canto porque a voz é rouca, o som é bandido, de um bêbado ouvido que te rouba: os versos, os pés, os metros. (me decomponha. e na escansão, me incendei com escândalo, flor de sândalo e memória).

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