8.10.06

correspondência crítica 2


my dear,

enchi o coração de ternura, mas veio vindo. e não foi culpa minha. e me ataca agora um desejo absurdo de ser oriental. no entanto não gosto das sedas japonesas. pequenos enganos revelam rasgos de verdade que o tecido não aguenta. rasgos de segundo plano, quarto nupcial, incenso. contrabando chinês, tráfico de órgãos em xangai. do outro lado do balcão uma japonesa me olha feito lua crescente. estou a lamber dragões, sol poente e fulgor. me rendo ao haraquiri. todos os dias são um suicído. e sigo morrendo everyday in the morning enquanto embalo pequenos budas para reembolso postal. foi ternura sim, mas agora nem sei. vaca indiana, mosteiro tibetano: silêncio. não sei se fujo ou viro estátua. aguardo uma terceira ordem e um coração em chamas. (acho que me enganei: a culpa é minha por ser tão precipitado, um trem no precipício do corpo, em couro, carne viva)

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