1.10.06

incorrespondências.love.


honey amor,

creio agora com todas as palavras nisto: o amor é impossível. não que ele não possa acontecer. acontece. mas tenho moderada violência pelo amor impossível, esse que não pode e nem deve acontecer. na verdade talvez eu nem esteja preparado. sigo falando coisas delicadas e bonitas sobre o amor, mas tudo que sei dele é um punhado, um punho fechado e cheio de lágrimas. o destino amoroso é inexorável comigo: me range, me dobra, me mata. porque não alcanço o que quero e nem sei dizer se o querer é um alcance. só o vejo de longe, só vejo o de longe. inexprimível, inextrincável. então me quedo triste na malha dos dias, nas linhas do desejo, nos ponteiros do relógio. e me perco esgotado na leitura de rimbaud: "o amor está para ser inventado". e qual invenção do tempo me executará, me colocará em movimento de via dupla? fico com medo de responder. por acaso você tem medo da verdade? às vezes ela pode ser um espanto, feito tiro à queima-roupa, por trás. te digo uma delas: i can't get you out of my head. (porque eu amo os teus olhos, amo quando você sorri, amo seus defeitos imperfeitos, amo seus erros comigo). verdade mais inconfundível que essa não poderia deixar de entregar. e não entrego por medo do trovão. há algum herói no céu, bravio feito a tormenta, a geada, o furacão? respondo que não, nem é comigo. não é contigo. visto um uniforme de infantaria e torno inexpugnável o lado esquerdo do peito. tantas estrelas e prêmios, via láctea. uma farda à espera das fadas. senhoras e senhores, nenhum truque por baixo das mangas. olhem bem, daqui eu tiro cartas inflamadas, indestrutíveis, inextinguíveis. ponho-as todas na mesa, viradas pra baixo. ninguém as lê e nem deixo. elas são falíveis: cheias de falhas e atalhos. marcadas não com o ferro ou o fogo, mas com caneta esferográfica azul. é assim que escrevo, é nesse tom que condeno o que gosto ao esquecimento. vai ser sempre assim, honey, um quebrar de águas? lá fora chove como se mil cavalos trotassem no rio. sinto os arrepios doloridos de um cavalo selvagem. não foi desta vez. eu que inventei o amor, embora o desejo fosse que o amor fosse me inventando por dentro. e não me esqueço que me esqueceu. o amor é extraordinário, feito do incrível, do milagre. e eu continuo à espera. e espero que o sem-nome me ame, que o destino me faça acontecer. embora no momento mesmo que se nomeie, o amor possa para sempre morrer.
i love you. so much.

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