30.11.06

vingança do gato.


honey,

pisei macio no piso da cozinha. sei que piso macio como um gato porque meus pés são macios. pisei descalço. a temperatura do chão era menor que a do ambiente e das coisas que nele estavam. um pisa-macio assim sabe o que temer: as dores hão de vir durante a noite, me torturando os ossos das pernas e dos pés. é sempre assim. e não há erro. é uma dor furiosa que me contorce com ganidos de cão (o pisa-macio morre e uma cadela se levanta em seu lugar). sabe, esse é meu modo de atingir o desmedido. como se fosse um crescimento bruto, uma violência. tudo isso porque estou cansado de contar histórias tão falsas quanto a ficção de um story board. e o pior é que acredito nelas. the worst thing in the world is to believe in your own lies in your own hands. sim, eu tenho vontade de escrever um romance. nunca te respondi antes, mas te digo agora. tenho vontade, mas tenho medo. medo de morrer antes de terminar o primeiro capítulo. então só escrevo aos punhados. te envio cartas que são um pedaço de nada. são como uma dor nos ossos. vem. e passa. escrever é um tipo de dor também. cada palavra é um passo na morte. cada ponto final é uma lágrima. cada lacre, uma mentira. por isso não abro mais tuas cartas. não quero saber da tua cara corada de artifício me outra vez o inverossímel. sem sombra de dúvida, i don't believe in you. há alguns meses atrás eu poderia pular de um trem em movimento por você. (faria tantas coisas em seu nome que nem ouso descrever agora aqui sem morrer um tanto mais). no entanto, muita coisa mudou. também mudei quando comecei a mentir dizendo a mim mesmo que everything is gonna be ok. a fábula de um story board que termina num k.o. you knocked me out, you bit my lip, you held me down and kept me sober. não estou sóbrio, nem sério. a cadela fica ganindo agora. meus ossos estalam. era amor o que eu sentia. não sentia o que era? se não foi falta de informação, foi falta de tato. mas já nem me importa. afundei meu pisa-macio no frio do piso como penitência. ainda te pergunto: as pessoas não amam por que tem medo do amor? amar não é como escrever. não se morre por dentro. ao contrário, bem ao contrário. cada dia de amor é o nascimento de uma fênix. e todo mundo teme deixar e voltar por medo de não saber voltar. eu te esperei voltar, bem sentado e bonito. ah, amor, como vingança, não sou eu que assino esta carta. eu assino com seu nome. assim dou morte aos teus sonhos. não fez isso comigo? amanhã que dia feliz vai nascer. acordarei negro e sem dor. um gato felix. um gato fênix. um gato feliz.

ass. honey.

p.s. sem ressentimentos.
p.s2 copiei até sua letra. não ficou bonito?

Um comentário:

Anônimo disse...

parte da carta foi escrita para mim. tenho certeza.


te amo.

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