3.12.06

carta dominical.


my dear,

que inferno. estou cansado de tudo isso. uma demora intensa dos meus músculos em cima da mesa. não consigo falar. o maxilar não articula uma só palavra. as cordas vocais desafinaram com a solidão das flores. um beija-flor já está a costumado com elas, mas não eu. uma nuvem de pólen voou pela garganta, uma aspereza de tirar o fôlego. folheio catálogos de natureza morta em domingos mortos. fico suando de tanto tédio, olhando arredio pela janela, pelas páginas. cheias de cores num dia preto e branco, de escala cinza, de escadas cinzentas cheirando a mármore fresco. estou numa festa. meus olhos piscam. as coisas ao redor diminuem o ritmo, petrificam, vaporizam. tudo é branco. onde estou eu e quem sou eu quando não estou onde estou? luzes ao redor da lagoa, vista panorâmica, noite cheia de lua cheia. um brilho prateado escorre na água. cheiro de peixe morto. alguém fala no meu ouvido. eu sou eu sou eu sou. catálogos. a mesma página. um copo está cheio de tédio, uma estante repousa o tédio, um espelho reflete o tédio. tirei tantas fotos ontem. de lugar algum. um disparo, dois, três. registro o mundo transbordando falta. (que falta que me faz aqui). não sei mais falar. pólen, beija-flor me beija demorado. fico de olho nas coisas, pegando o próximo trem da semana. sunday without sun - monday with the great moonlight.

Nenhum comentário:

Pesquisar o malote