19.12.06

bilhete do trem.


te escrevo rápido porque estou na defensiva ainda. não sei o que vai ser. escrevo apressado como quem se perde num comboio de trens velozes. trens que partem de todos os lugares ao mesmo tempo. e no intervalo dos passos rabiscados, os pêlos se perdem nos cascos dos cavalos de ferro. te envio fragmento da carta de ana: ' você não acha que conhecer o artista atrapalha a fruição da obra?'. ficou me perguntando dias a mesma coisa, vê se te responde o que eu quis dizer. às vezes dá para disfarçar bem, mas te pego me olhando de canto de olho, suspeitando de tudo. chego a ficar bruto de mim, sem lapidação. a verdade crua também pode soar outra coisa de tão inteira, uma faísca, fumaça dos trilhos descendo nos olhos e amortecendo tudo. preciso sair sem demora, faltam cinco minutos para daqui a pouco e os batentes dos trilhos tremem por onde eu piso. as palavras temem por dentro: cem cavalos de força despencam no desfiladeiro sem fim.

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