20.12.06

correspondência da construção civil.


dear,

fiquei com vontade de escrever prosaico, mas está tão quente por aqui. pés e mãos nus ficam transpiram com vontade. e isso deixa a página tão molhada e convencida. hoje tive vontade grande de rever the wall. acho que porque eu fiquei espantando com as conversas que ouvi outro dia na rua sobre a sobreposição de um disco do pink floyd sobre o filme do mágico de oz. acredita em coisas assim? tenho receio de mensagens subliminares e conteúdos ocultos. acho que é isso que me derruba quando vejo algum filme: fico por dias grudado no suor da história. all in all it's just another brick in the wall - me peguei cantarolando isso enquanto te escrevo/ia. acabei de notar que os tijolos também transpiram. pousei a mão sobre eles e senti um gosto molhado desses de fim de dia ensolarado. é uma pena que não te escreva de buenos aires como quem escreve para alguém em paris. fico com certos desejos, embora não goste do final que deram aos coelhos. ah, estou quase terminando o livro de cartas de ana. planejei um breve ensaio biográfico a respeito embora eu desconfie que não vai render um só fiapo de respeito. carrancuda academia. o que me dá náuseas e situação emocional em crise. te pergunto à queima-roupa: tem vontade de publicar nossa correspondência também? não penso que valha a pena, pelo menos as minhas. prefiro que as guarde todas na gaveta e num belo dia as dê para a empregada deitar fora. sabia que você iria perceber, mas toco de leve no assunto: ando sem vontade de ser emocional. estou num racionalismo que fere feito faca de açougueiro. vai ver é o final de ano me obrigando a rever antigas promessas (e desde janeiro não consegui sair da areia movediça). we don't need no education. quase concordo. e meus livros na estante, feito tijolos de uma parede arruinada. pesados demais para carregar, estragados demais para servirem. estou em construção alguma por dentro. obras paradas. me diz o que faço para escapar da inércia e dessa coisa negra que cola em mim feito cimento. ontem à noite pensei que fosse me ligar de volta. sabe quando você sente que perdeu alguma coisa que nem ganhou? foi assim pensando que entrei num banho frio e saí meia hora depois. o corpo todo enrugado e limpo, mas ainda assim o mesmo. fico até sem jeito de dizer que fiquei sem fazer nada de novo. me escondo no quarto a sete chave e três voltas. mesmo num esconderijo protegido, alguém me vê. por um buraco deus vê tudo e ainda me diz com dedo em riste: all in all you're just another brick in the wall. (um tijolo vermelho em carne viva). a parede, dear, sou eu.

Nenhum comentário:

Pesquisar o malote