5.12.06

o verbo. poesia vocal. cartilha.


honey,

daqui de baixo tudo é menor. um batimento de sangue sem os ecos de suas válvulas. meu corpo transatlântico singra num riacho doce, cheio de curvas e seixos. (meu corpo canoa sangra canela adocicada e oriental no sexo dos pequenos peixes). minha voz, traidora do meu corpo, se afoga na rebentação. na minha garganta moram espumas de sal, esqueletos de gaivota, cracas marinhas. voz minha de litoral, de encosta, que não encontra tua voz continente, embora lamba suas costas com delicadeza (às vezes com fúria e falésia). minhas ondas não te molham os pés do ouvido, sonoras, chorosas? tenho te entregado a palavra em carne viva, mas a tem devolvido com mercúrido vermelho, dolorido, ardente (timbre grave para assuntos graves e cheios de gaze. timbre agudo para discursos de corte e lâmina de cobre). a doçura das água invade meu corpo pegando o equilíbrio sem centro. estou muito salino, condutor elétrico, pára-raios. meu verbo criou os peixes de escama prateada, a lâmina de ouro do peixe-espada, a seda cinza das arraias, só não pôde criar o amor dos teus olhos desafetos de mar. aqui tudo é menor, mas me enganei quanto ao batimento de sangue: é ensurdecedor.

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