9.12.06

flores.


honey,

foi assim mesmo? por que sempre parece que te escrevo in media res? mesmo que a história nem tenha acontecido, ainda em suspenso no ar, suspensa em cada flor dos jardins suspensos. mas o vapor de água em cada pétala custou a beleza-viva de um vermelho vivo de cada rosa. floricultura é um cultivo. um amor é uma rosa que ali nasce. mas pode chegar a hora em que a beleza bela é cortada pelo caule, embrulhada em celofane e entregue como mostra de amor. algo morre para outra coisa nascer ou crescer. alguns dias na água e a beleza dura, te olhando de jarras de vidro, como prova ou prêmio. não é preciso olhá-las o tempo todo, tampouco cuidá-las em excesso. uma rosa se asfixia tão mais cedo assim. no entanto, a beleza pura se desmancha, murcha e é posta de lado. cumpriu seu papel. vão-se os laços, os caules enferrujados, as pétalas escuras. uma rosa é uma morte-em-vida com a vida de abraços e beijos apertados continuando do outro lado. entenda que nem sempre uma flor é uma dor assim. cultivada sob o silêncio paciente de um floricultor, uma rosa pode ser um amor num crescendo vermelho rubro. sem precisar ser uma posta escarlate de sangue, de seiva bruta jorrando. o tempo da natureza é diferente do tempo das cidades asfaltadas, das metrópoles urbanas, frenéticas. o tempo da natureza é um tempo de cura. tempo lento, orgânico, duradouro que cresce por dentro com o de fora. colando corpo e forma, corpo e espírito de corpo (eu entendo de compreender meu corpo no teu espírito e meu sonho no teu ouvido). mas o amor natural é isso mesmo: uma rosa selvagem, crescendo no campo, cheia de espinhos. uma flor assim mostra como o amor também machuca e a beleza fere. não por querer. apenas por falta de cuidado. talvez do teu, talvez do meu, da minha falta de cuidado. precisava te dizer da tua beleza selvagem arranhando a minha de estufa de vidro. minhas flores de floricultura nas tuas selvagens trilhas de pétala. em suspenso, agora mortas, murchas. sem laço ou celofane.

Nenhum comentário:

Pesquisar o malote