10.12.06

from the future.


my dear,

nem sei o que te dizer. tua voz ontem era tão magra de carinho, um fio surdo, um curto-circuito. quando desliguei quase tive crise de choro. reli sua carta: "... porque acho que tudo se desgastou."
falando assim parece que tudo é a engrenagem de um corpo ciborgue. meio homem, meio máquina. os sentimentos ali apenas como um comprimento de ondas, uma alavanca seguida de um clic num visor de cristal líquido. custo a acreditar que por trás dos teus olhos não devo mais ver a ternura espontânea, mas cabos de fibra ótica deslocando à velocidade da luz uma centena de impulsos elétricos. também me aperta dizer que talvez tudo que eu tenha ouvido de você seja apenas a combinação artificial de palavras, memória combinada de poemas, em combinatória cruzada. alguma vez sentiu de verdade minha pele deslizando suada pela sua ou foi só uma resposta sensorial de tua carne falsa? não posso acreditar que havia prazos de garantia, assistência técnica autorizada, peças de substituição. deus criou o homem. o homem se recriou máquina. tua inteligência artificial me magoa agora porque é cheia de monóxido de carbono, simulação motora, modulação afetiva. se ao menos tivesse te inventado com inteligência emocional, não teria sido assim, uma fina lâmina fria e inoxidável de amor. desliguei o telefone ouvindo tua voz metálica, estralando as engrenagens secas. quem vai substituir tua memória ram, teu dispositivo atômico, teu simulador de querer? nem acredito no que ouvi. (fechei os olhos, dormi). no mundo que eu sonhava, o céu da minha boca descamava. febre 40 graus. pele descolava como um clarão de estrelas cadentes, doloridas, se enrolando esbranquiçadas. o coração pulsava assustadoramente. vermelho visto, envolvido em sangue vivo. e bastava um toque, uma gota de saliva, um hálito fresco de manhã dormida para eu dar corda no coração. sem roldanas ou amarras. fio de metáfora que me dispara a amar colorido, verdadeiro e humano. (então me desligo, tiro o telefone do gancho para não ouvir mais o chiado da tua estática no meu ouvido).

2 comentários:

Anônimo disse...

eu nem sei o que comentar aqui. 'o blogue mais perfeito que já li?'. tô até com medo de parecer pedante. mas tá valendo. tô devorando todos os seus posts, então vou nessa.

Anônimo disse...

bunny...
queria tirar-te desse mundo de superficialidade...
pegar sua mão e tentar ser feliz ao teu lado...
... and I need you!

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