24.1.07

carta de pedidos.


honey,

deixa eu deitar no teu mar, curar tuas feridas de água-morta, abertas, vermelhas, indóceis. deixa eu procurar o som do mar, na fúria das encostas, o som do amar nas tuas costas endurecidas. deixa eu ir até o lugar onde as sereias encantam marinheiros coxos, ser o impenetrável, a altiva lira que rouba mirantes passagens de mastro e mostrar como de alabastro é feito meu cantar. deixa eu mergulhar teu corpo no salgado da água, revigorar o inconsciente, o arquétipo primordial do amor instantâneo, fotográfico, oceânico. deixa eu te levar até o fundo, onde as correntezas te pegam de calor e te consolam marulhosas de peixes coloridos. deixa que o ribombar do trovão sacuda teus músculos até as entranhas virarem um raio de luz, uma iemanjá coroada de flores, serena, vitoriosa, coberta de espumas e algas de ouro. deixa eu te pegar pelos braços e te fazer estrela espelhada de prata na calmaria de uma noite negra. negra, porém, inquieta, à flor da pele tatuando na tua pele as flores de tamanho louvor. deixa eu gritar aos quatro cantos, aos ventos, às quatrocentas rosas-dos-ventos o quanto se faz rosa e sedento o grito que aqui mora e te clama te chora te chama te ama. deixa eu nunca mais te deixar fora do pensamento, da areia-viva, do farol da ilha. deixa eu guiar tua vida com armaduras de bronze e armadilhas sinceras de amor.

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