23.1.07

nova correspondência II


honey,

fiquei lendo poemas até às três da manhã. não aguentei de sono e adormeci por cima da cama, de bruços. lá pelas tantas me peguei pescando o vazio, puxando alguém. ausência, ausência. cadê o teu braço, o teu rosto, a tua mão, cadê você? apertei forte o travesseiro onde deitava, respirei bem fundo o teu cheiro. que tristeza teu suor que escapa, teu perfume que evapora. que tristeza a tua lembrança só ser fresca na memória. pela casa rugem os fantasmas da tua presença. alguém na cozinha lava louça. foi você quem voltou? chamo teu nome e não te ouço nem pelo eco. mal acordou ainda, te trago o café. prometo que vai ser sempre assim. ficamos tão perto. nem estranhei a velocidade do amor. entrei nesse trem que atravessou em disparada a raiz profunda do afeto. mas a saudade me afeta. e leio poemas como quem se acalma, levantando vez ou outra os olhos, só para inventar outros calmantes, outros desejos, outros lampejos de voz que me limpam a alma. sabia que estar tão perto do coração é indício selvagem de felino amor? te fere o tigre, te fere o leopardo, te fere o guepardo salpicado de manchas. só não te fere a garra que te oferto, mansa, gatuna, manhosa. meus pêlos de gato te alisam, domésticos, encantados, cheios de apelos e elos lacrados. não me deixa aqui vivendo por procuração. deixa eu me alisar no teus sapatos, me espreguiçar no teu quarto, te espiar no chuveiro do banheiro. agora que tu me reinventou o amor, só quero saber da tua invenção. só quero te buscar e ficar contigo deitado no horizonte, na espuma das flores, no rastro do vento, no rebento das cores. é fim do dia e te desejo.

Um comentário:

Anônimo disse...

muuito bom esse blog

é bom ler poemas... que me dera o dom d escrever

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