4.2.07

américa do sul.


honey,

quase me esqueço dos dias. pego anotações avulsas & dormidas do cartapácio. não consigo escrever sobre nada. (...) assim como os cafés, os trens são bons expressos, embora de outro modo: mais cremosos e mais rápidos (...). nota de livro. não sei escrever mais. me esgotei, então me deitei na cama e fiquei pensando coisas assim: se eu não dissesse nada e ficasse tão quieto que alguém sentisse a minha falta? e se eu demorasse tanto para voltar que alguém tivesse me esperado a noite toda? e se eu fosse para o mais longe do mundo e alguém fosse até o fim atrás de mim? e se eu parasse de sonhar, de acreditar em alguém sob medida, o que iria ser do desejo? mas nem me lembro, nem me lembro de quando eu pensava assim. estou pelo avesso, em contato íntimo com meu começo, onde tudo se fez e onde estrela brilhou numa centelha de centenas de brilhantes. meu grande segredo é ser um segredo sem o saber. (vê se me entende um pouco mais? quero te explicar minha ternura). eu te disse e é verdade. quase me esqueço dos dias. dei a fazer dobraduras japonesas de tempo. penso a todo tempo em haraquiris, kamikazes e sol nascente. conto as horas nas dobraduras. dobras de tempo se desdobrando nos meus dedos. amor, quando se diz pra sempre, não dá para desfazer a eternidade. eu não desfaço. o que faço são versos, arranhados de américa latina :

¿cuáles tus secretos?
no tengas miedo.
yo digo los míos,

secretos.

sólo no me entregues,
no quiero ser culpado

por todos mis antojos
prohibidos.

¿cuáles tus secretos?
yo digo los míos.

desvelo el secreto corazón

pero espera, oye:
si te hablo de mí,
ni tu ni yo
seremos los mismos.

(segue postal de alejandra pizarnik, de quem sei que gosta tanto)

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