8.2.07

carta da saudade


honey,

esta carta, uma ferida. o desmedido. o imensurável. o intemporal. eu não minto minha nostalgia. reli antigos telegramas. cada grama uma tonelada de aço. cada grama um pedaço de universo. cada grama um verso no meio dos telefonemas e das conversas no espaço. e toda vez que me arrisco nesse papel é para arrastar os dedos no asfalto. porque a falta é uma fricção dolorida de tão cruel. faz parar a dor? me consola nos galhos deste chorão inclinado que sou eu? o sol nasce atrás de mim, as folhas farfalham. umas cores púrpuras, olhos fechados, um anil desbotando tanto que quase nem acordo. o dia amanhece você no meu pensamento, de um modo tão intenso e tão valente como é o sol crescente da aurora que, embora tão longe dos meus olhos, logo me veja queimando nos seus raios. logo me veja na demora de um coração em chamas azuis crepitando nas fogueiras da praia. eu queria saber como te amar sem carências ou exuberâncias. de um modo mais sério e sob medida. já que sendo imensurável é tão difícil a acolhida por quem escreve bêbados riscos, risos de amor embriagados no teu colo. me diz o que vai ser se eu ficar preso a esses contornos, enroscos e filmes fotográficos. e se eu me perder nas grades, nas grandes pulsações, nas vozes fantasmáticas, o que vai ser de mim? ah, que vontade de comer as pétalas dessas rosas que colam no meu corpo quando eu passo. que desejo de ficar deitado entre essas luzes antes que se apaguem de um sopro. que magia sair do preto e branco, da escala cinza, e ser definitivamente colorido. ao teu lado, sem tempo para voltar. a saudade, amor, é que é uma ferida.

4 comentários:

Alberto Pereira Jr. disse...

"faz parar a dor?"

Sublime como uma lufada de vento em dia de primavera! Lindo, doce e etéril.

Anônimo disse...

a saudade, amor, é que é uma ferida.

Como você consegue...
Eu te amo.

Anônimo disse...

eu tava pensando...

" a nostalgia purifica
"

Anônimo disse...

temos formas de escrever diferentes, mas não opostas. e eu acho isso muito legal. porque eu gosto bastante do jeito que você escreve.

Precisando conversar, trapalhadas da vida. ;/

abraço

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