11.3.07

carta do estrangeiro.



hasta que yo esté calmo
lo que me es caro será herido
no importando lo mucho que son
queridos por el corazón.
no tendré sosiego
mientras no tenga a los muertos
todos en su yacija.

juliano adrian

honey,

mais profunda porque incompreensível é a dor em outra língua. um discurso estranho estrangeiro para um corpo além país. sem passaporte, não atravesso as fronteiras, fico rondando as bordas que me deixam de fora. tento me comunicar, mas ninguém me entende. e me olham com rostos sérios e secos. em qual idioma deve estar vibrando minha garganta? minha língua mãe é falada no coração. meus vasos sangüíneos todos em linha reta dariam a volta ao mundo e pouco mais. levariam por certo minha língua até no mais distante confim. e quem a ouve? estão todos surdos. surdos e mudos. nenhuma só palavra. bem fazem se o silêncio é muito mais cortante que o fio de uma navalha. que houve? para que tantos guardas e torres de vigia? não quero escapar, não quero entrar nem voltar. nada há para mim ali. nem aqui. antes o exílio, esse vagar andarilho por terras vermelhas e ásperas. quero ser um édipo cego apalpando os muros e os monturos do mundo. sem culpa ou dor. o destino só é inexorável porque vem de um lugar sem nome. não o podendo nomear, como o dizer? diga-o com o sentir. só que no momento as pessoas estão ocupadas demais com os discursos para sentir alguma coisa. precisam escrever e escrever sem levantar a cabeça do papel. o ar ao redor é rarefeito, nem respiram. os homens estão mortos e não sabem. são seus cadáveres que não largam as canetas. não tiveram tempo para sentir e inventaram esse idioma idiota de tão incompreensível. e ficaram tão secos das palavras secas que se foram todos até o último. se tivessem falado molhado com o coração, quantas almas não estariam satisfeitas. estou triste, amor, porque sua língua também já é seca. não ouço uma palavra a não ser os teus discursos ininteligíveis pra mim - sua casa, seu carro, seu trabalho, seu dinheiro, seu tempo. isso não vibra nem uma folha de figueira. não chega a ser nem uma gota de saliva. está morrendo como todos os outros. e antes que eu precise saber a hora do óbito, prefiro me perder no desmundo. lá onde o destino não nomeia as coisas. onde há espera e amor gratuito. onde há esperança e cuidado carinhoso. lá onde cada estrela é uma alma encantada. amor, me desculpe, mas prefiro o exílio do que tua terra amargurada de sem-amor, nome-tudo, silêncio-absoluto e mortos-todos. eu pensei ter descoberto um país, mas fui traído pela tradução do teu idioma corpóreo.

Pesquisar o malote