14.3.07

kamikaze


honey,

não consigo respirar. um dragão japonês adormeceu em cima do meu corpo. ele pesa e me sufoca roubando meu ar. engasgo com as baforadas de monóxido de carbono que saem de suas narinas. mas por que ele está aqui? eu não pedi sua força destruidora. ofereci meu coração avermelhado e ainda assim sinto o sopro do dragão. crime e castigo. eu pensava que o futuro seria feito de quantos sóis nascentes fossem me dados a ver. mas o dragão virou minhas costas, virou meu rosto. só me restam os pôres-do-sol que vejo descendo nas águas da baía. não consigo respirar, não consigo dormir. dentro em breve não conseguirei ver nada também. a radiação me embranquece os olhos, dissolve o meu corpo, o teu corpo, apagando todas as memórias. vejo o esquecimento brilhando nas escadas, nas escamas, nas ilhas. eu tenho um sonho: dragões cinzentos me sobrevoam vorazes. depois recolhem do alto das macieiras as mais afiadas espadas de haraquiri. os pés viram raízes quando descem ao chão. e depois eles se golpeiam até ficaram todos ensangüentados num fundo preto e branco. os dragões do sonho, meu bem, haviam enlouquecido por conta do teu coração de fogo. eu não sou como os dragões. só não consigo respirar. acho que mergulhei demais no espaço. foi um vôo suicida, kamikaze. e não podendo ver quando me arremessei contra teu navio, eu falhei. não consegui te levar comigo até o mais fundo. então você segue teu rumo intacto, sem baixas ou suspiros. por favor, não olhe pra baixo. preso nas ferragens, eu não consigo escapar, o avião se enche de água. fecho os olhos e então um dragão imenso se deita sobre mim. ele tem teus olhos, tua voz, e me diz para nunca mais voltar.

Um comentário:

Alberto Pereira Jr. disse...

mas mesmo com o pedido vc voltará, pois afinal é kamikazê

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