3.3.07

carta do lírio


dear,

o ouvido do coração afina os versos. é uma lira e um cântico. eu que tenho uma flor quase morta, nada digo. olho o pequeno lírio em sua sobrevivência. de quem será a culpa? da água, do sol, do solo, do homem que a cuida? está quase morta. e é uma flor que já se foi. é o caule que ainda insiste. um coração vibrando pequenas notas de música que pego de ouvido. não decoro tudo. mas colaboro com os registros de uma flor que quer autobiografias de gemido. há uma raiz quase nova que escapa do xaxim. é feita inteiramente de um verde bem clarinho de águas. verdade? calma, meu amor, que é apenas eclipse. deita tuas folhas sobre as folhas do que te escrevo. é só de passagem que a lua se vai. a luz volta dentro em breve. te acalma minha ternura, a loucura de uma noite mais negra é só por hoje. não é isso? que é então? ciúmes das rosas lá de fora? são vermelhas como uma boca sangrenta, bem sei. não? é raiva das damas da noite que vão lambendo os passantes com seu perfume-veneno? dedilha ali na janela o que quer que eu diga. só não se debruça demais porque estamos no primeiro andar e depois não tem mais volta. já estou cantando. quando foi mesmo que se deu? 'um dia, num laço de fita, fui uma flor bonita'. com os homens também é assim. sabia que um lírio é um coração? floresce vívido uma vez na vida. depois é assim: uma sobrevivência num xaxim sozinho. ah, lírico lírio, você não me entendeu. eu te entendo. olha lá o último fiapo negro na lua. agora me deito. dorme comigo?

Um comentário:

B. disse...

Dormiria contigo se agora a luz da lua não me deixasse acesa. A insônia vem junto com ela e o brilho vem me ofuscar.

Belas flores, belo texto, eclipse e ênfase nos lírios.

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