5.3.07

confissões de um cão.


dear,

sonhei com rousseau. uma verdade por um laço de fita. tenho sido tão sincero que chega a estalar as costas de tanto esforço. que mais preciso saber? não me adianta deitar. a languidez dos gatos só fica bem para quem tem bigodes. e eu só tenho uns tufos de pêlos crescidos, uma cara de menino novo. hoje escureceu às quatro da tarde. não tive medo nem nada, apenas pressa para chegar logo em casa. mas mesmo com passo rápido, vi nos postes e nos mercadinhos os cartazes: 'procura-se cão perdido', criança muito doente. e arrematavam: oferece-se recompensa. me deu um nó no peito pensar nas crianças doentes, deitadas no chão da sala, olhar parado, perdidas no mundo. a vida delas era um cachorro. e agora adoecem sem os bichinhos. que dirá quando perderem um adulto ou um amiguinho? devem ficam doentes até morrer. volto ao cachorro. e se não o encontrarem? a quem se dará a recompensa? como se recompensará um coração ferido? a dor de uma criança é um cachorro perdido. mas apenas mais tarde é que irá entender que a ausência é uma doença. jogos de amarelinha. quis tanto ser verdadeiro. retomei a pena pra te dizer assim: eu te encontro, não me perca. que o coração sabe o quanto vale a verdade mais íntima. saia pelas ruas me chamando pelo nome. em alguma esquina vai encontrar meu retrato, minha cara de cão, não a de gato. antes de me levar de volta, presta atenção: sonhei com rousseau.

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