25.3.07

a insistência branca


honey,

eu ainda insisto. cada sinal é o vestígio de uma profecia. um escoadouro de destinos e esquinas. fico ainda me perguntando se a cartografia dizia exatamente isto: não há volta para um caminho sem contorno. então fiquei olhando os dias a deriva, passageiros de um navio cheio de insônia e preces. estive chorando partidas das quais nem sabia - toda partida como um fio partido de vida e vidros em cacos, cascos de embarcação e casacos de comandante. o nó pode ter sido desfeito, mas ainda me sinto tão amarrado às velas que se movem com teu sopro, fazendo de cada barulho uma voz e um rosto marulhoso. fiquei por semanas ajoelhado naquele porto de tempestades, até que pude engolir o mar revolto, a chuva grossa, os milagres, e retornar pra casa, esvaziado. depois achei tão nonsense chorar e sofrer, como se eu olhasse os rituais de um povo antigo, para mim sem significado algum. foi assim que eu te reinventei por dentro de mim: incompreensível, inominável. e sem poder te compreender ou te nomear, não havia um só nome ou uma só lógica que minha garganta pudesse evocar. te esvaziei daqui e fiz de cada memória um rastro de vento: posso não ver, mas sinto. e só. geografia anômica. coração anômico. no meu retorno reencontrei velhos amores, ternuras que a pele descosturou ao longo do tempo. que fazem vindo ao meu encontro? apenas ouço um quebrar de águas, um trovão, estrelas de um céu sem medo. por enquanto não toco e não sinto nada. vai ver porque agora temo tanto o amor quanto a morte veloz dos guepardos africanos. insisto: chego a acreditar que os caminhos que os trazem são o hálito fresco do destino. para qualquer uma destas manhãs brancas nas quais acordo, ao cheiro de lençóis sem lembranças, sem várzeas ou bandeiras.

3 comentários:

Allan C. disse...

e a vida é bem assim, um oceano infinito onde sozinhos navegamos em nossa barca, por horas em canoas destroçadas, por outras em grandes cruzeiros luxuosos. Nossa embarcação, logo a vida, é mutável, moldável, e segue um roteiro sem nome, sem conhecer bem o trajeto, e saber pouquíssimo do objetivo final. A vida é o barco, mas por vezes não há tripulação alguma, apenas corações solitários e lágrimas nos olhos. Suspiro.

Anônimo disse...

Tão real quanto mergulhar uma das mãos em um balde cheio da água.

B. disse...

Exatamente por medo de sofrer que nunca me entreguei a uma paixão. Já foram tantas que tentei e só a tentativa já me doeu.

É tudo lindo aqui, até a dor.

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