9.3.07

silêncios.


honey,

por que perder tempo lhe enviando cartas se nunca recebo resposta? a quem eu escrevo senão a essa entidade que não existe, sem voz ou corpo? meu coração te fazia de substância sólida, mas teu voto de silêncio, amor, desmanchou tudo no ar. as partículas de você são uma suspensão, uma promessa de chuva. e está tão quente, abafado, o tempo não se decide. tenho medo de partir pelas ruas com a cara lavada de choro e ser pego pela tempestade. será fria e forte, açoitando meu rosto com gosto de chicote. teu corpo de nuvem cheia, quando se decidir, tenho medo. por agora pensa que é bonança e tudo está tranquilo nas praias e nos mundos. em cima do muro eu me arrisco entre os campos de trigo e os murmúrios do vento. bem podem as nuvens partir para o mar e lá afundar suas águas. bem podem descer pelos asfaltos, correr pelas ruas, escorrer pelas vidraças. eu te recolheria nos vasos, nas calhas, nas telhas, no improvável. mas não sei se fico ou passo depois de tua ausência. não sei se o que for recolhido ainda poderei beber. e se eu tivesse que te cuspir por não sentir o mesmo? não seria culpa minha. foi você quem evaporou, tua decisão. e se a chuva cair, não me espere nas praças nem nas esquinas. estarei abrigado e embriagado num canto qualquer. porque, em algumas circunstâncias, o amor dói muito mais do que a morte.

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