8.5.07

abertura de carta.


honey,


peço que me segure nesta vertigem de andares, lances de escada e elevadores quebrados. com um clic de pálpebras os sonhos me colocaram em movimento: mecânico, pensativo, sonhador. queria algo estupendo para este dia, sem cor, cinzento, como rosto de foto antiga. me faz uma promessa que eu te faço uma dívida. queria tanto um beijo debaixo de chuva, mas creio que neste instante eu só poderia amar a mim mesmo. talvez porque eu tenha certo amor pelos amores em segredo, fantasiando os acontecimentos do primeiro movimento até o último. penso por demais em qual seria o primeiro toque ou o primeiro verbo. seria tão mais lindo se teu verbo primeiro fosse um pronome: tu. e no momento mesmo que declinasse o tu não seria apenas um verbo, mas a manifestação de ti no meu corpo. sinto que estou tocado pelo fogo. creio que será sempre assim entre mim e ti: um movimento audacioso dentro do acaso. por isso não há volta depois de pronunciada a primeira palavra ou feita a primeira pergunta. (eu quero tanto quanto tu). tento te entender pelo silêncio mesmo quando não houver silêncio algum. mesmo que meu coração esteja atravessando o país com seu vapor escuro e seu movimento pesado de trilhos. enquanto houver civilização haverá cidades povoadas e um coração povoado e atravessador. um coração cheio de válvulas de escape pulsando numa velocidade incompreensível. estou me sentindo vivo. o amor me vive. se houve um passado, não há mais. mesmo que eu me debruce sobre o teu corpo e mal toque a bainha de tua roupa.

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