15.6.07

carta aberta ao futuro.


honey,

teu nome fez uma entrada na minha carne, uma tatuagem. se bem verdade é cada uma das letras que formam teu nome enformaram o meu corpo. estou encarnado e encorporado em ti. puro sacrifício de nascer o meu corpo no teu sangue, assim como o tempo nasceu do caos dos teus pêlos, da leveza dos teus desejos, do vôo rasante do teu rosto. rasura-me e eu estarei morto na linguagem de tua boca. apaga-me uma letra e serei outra coisa: uma ousadia sem ossos, um anjo sem causa, um mar sem orla. tenho medo agora de olhar minha testa e me saber escrito de areia, pois tão logo posso ser lavado pela águas e levado pelos pés a milhas de distância. eu desejaria que tivesse me feito de barro e me soprado o espírito bem ao modo de deus. deste modo eu seria perfeito e eterno sem ser um viajante. e seria somente eu vivendo no paraíso do teu tu. sem o mínimo perigo de ser colocado fora do alfabeto da tua pele, sem gozo ou amor algum. e também sem o medo de aniquilar o poder de deus, o próprio paraíso ou o verbo que me animou. diga meu nome que os fonemas extraídos do teu canto me farão captura, fotografia de corda vocal, ser humano. diga meu nome que no trânsito de sons e símbolos haverá o fluxo contínuo de um amor vivo. em carne viva. em vórtice feroz. em silêncio devorador. em litoral de carta. mas se levar embora o que seja meu nome, a letter que me fez será o litter que me voltará ao pó. sinto que é tão duro o limite que nos separa do arrebatamento e da rebentação das ondas do mar. o significado, amor, é um exílio, uma prisão. por isso me tenha como o significante mais desconhecido, porque assim, mais intenso e mais verdadeiro eu viverei na língua de fogo que me criou. sem teu verbo de amor serei o substantivo de uma língua morta e sem povo. sem tua retórica erótica eu serei um fantasma de linguagem. sem teu sobrenome, eu não terei efeito discursivo, seria incomunicável, indizível. eu seria o outro lado depois da morte.

2 comentários:

honey disse...

dear:
acho mesmo que a saída é inventar este amor que a gente tanto procura. o amor carnal. sexual. desejante. alucinante. vertiginoso. já desisti de amar errado. mas a vida sozinha é pura dor. ardor sem fim. besos.

Anônimo disse...

Hum... esse negócio de encarnado me lembra certa aula de psicanálise gauchesca...rs!
beijos

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