3.6.07

nostalgias.


honey,

eu não tenho nostalgia do passado. senti-la seria como beijar a boca de cadáver sepulto. eu tenho nostalgia pelo futuro que me acena um sem número de vitórias e sonhos inventados. cada vez que a linha imaginária do presente avança sobre os dois lados da água do tempo, é pelas ruínas que eu sinto tristeza. tristeza e remorso, pois os sonhos todos eram de plástico e derreteram suas tintas com o calor dos meus passos. minha cabeça é uma janela amarela que cresceu ouvindo contos de fadas. minha cabeça só fabrica contos, mas como não os conto nem os vejo, se escondem atrás dos armários. até que as águas invadam suas gavetas e os sufoquem num grito asfixiado. assim chora o rio inverso: tábuas, corpos, sonhos seguem boiando para trás. o já-sido também tem lencinhos que acenam para as minhas costas. mas o que dói mais é olhar o não-sido das inventadas manhãs de amanhã. os desejos não realizados, os contos desmentidos, os corações partidos. então sinto falta do subjuntivo, do condicional. e me culpo. quais as tintas do meu corpo que não convenceram o espaço branco da tela, seja ela a vida ou a janela? quais as linhas que errei no imperativo ou no pranto? as águas desaguam caiados cadáveres, brancos como fantasmas. acho que de noite eles me possuem por eu não possuir nada. hoje, mais tarde, proporei um trato: que meu quarto se encha de um quarto do oceano.

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