21.9.07


honey,

eu não tenho culpa se os enigmas nocauteiam teus calcanhares e teus tendões. compreenda uma coisa: só é possível penetrar o mistério, se um mistério penetrar o outro. e não pode haver outro campo para ordenar o indecifrável senão na linguagem. eu tenho um feitiço que escreve; você, um contrafeitiço que rasura. ao medir forças assim só podemos dar conta do nosso próprio desaparecimento. as costuras do caderno já estão cedendo, mas continuam sedentas. com tantas águas assim nem um dique suporta. o corpo não suporta as suturas em seus portos, poros, cabelos de mar negro. a nau vai descendo pelos desejos enquanto o capitão mapeia uma constelação de mentiras e segredos. a vida, meu amor, é uma incerteza absoluta, uma verdade relativa. então me desentranha dessa estranheza de viver o tempo: eu inventei um objeto que inventou o sujeito. era para ser palavra de amor. não era apenas para tocar. quero trocar levezas de línguas e línguas enroscadas no céu boca. faz disto uma última constelação possível. fui tocado na superfície, uma superfície mínima. agora me dá corda e desce a língua toda por mim como quem dá conta de tocar fogo em tudo. estou esperando que me estrague e também que me entregue ao mais desvairado dos romances. eu não tenho culpa: se é o coração que dispara.

3 comentários:

honey disse...

esplêndido!
amo te ler. tua poesia é teu encantamento [um deles].
bj

Alberto Pereira Jr. disse...

deliciosamente sexy o texto...
e tens razão: a vida é uma incerteza absoluta que nos leva a desbravar o desconhecido e arriscar ser feliz!

beijao

Thiago disse...

muito especial seus textos, tem um ar de mist�rio, desbravador de naus e mares desconhecidos..
se cuida amigo
ab�

Pesquisar o malote