19.10.07


dear,

é apenas para você que escrevo estas cartas. para você que tem fome de mim, que adoece, que se embriaga, que me diz desaforos e depois me pega e apaga lentamente a luz, a noite e as palavras. escrevo para você que está longe e tão perto, fora e tão dentro, ao inverso e tão certo, tanto, tudo e nada ao mesmo tempo. escrevo para quem me ama enquanto dura o sol e para a mesma pessoa que me odeia nas duras noites sem mim. escrevo como quem pede perdão por ficar, sabendo que quem permanece também está de partida. escrevo como quem diz obrigado sem ter recebido um favor. escrevo. faço de conta que confesso o inconfessável, depois rabisco os versos, os verbos, corto a verba dos correios e esqueço a verdade inteira. ou finjo que esqueço, ou finjo que registro o esquecimento. a literatura das cartas é a verdade mais deslavada: guarda chaves e se faz. eis a cartografia do mistério. escrevo para você, dear, que me devolveu ao mundo. escrevo, também, como quem volta a caminhar olhando para o chão e para os pés, completamente infeliz. escrevo apenas para dizer que sinto muito e sinto saudades. e que os andares todos e os corredores vivem agora tão desolados, afastados um do outro, afastados de mim e de você, meu bem.

3 comentários:

Alberto Pereira Jr. disse...

"escrevo como quem pede perdão por ficar, sabendo que quem permanece também está de partida"

sem palavras pra descrever tão bela construção de palavras..

Anônimo disse...

Bem perto do lugar onde estão as "coisas". Quando se toca na parte viva, se sabe que ela é impermanente. Jujubinha de alminha terna e frágil.

Anônimo disse...

muito medo, muita pena. Muito lindo.

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