25.11.07


honey,


se eu pudesse escolher, nunca teria sido assim: quase sempre, as palavras inflamáveis. tão difícil é essa coisa barroca pintando meu corpo e outro corpo. o quão difícil é ser a dobra entre dois universos, a superfície lisa que faz deslizar os conflitos e as diferenças. um território de baixo, outro de cima. me encarrego da duplicidade das coisas, unidas pela minha pele e pêlos, que tocam suas bordas sem realmente se tocar. hoje está ficando tão longe e tão tarde neste quarto perto das quatro horas da tarde. haveria uma razão qualquer para desmoronar as coisas? de cara nas ruínas, as mentiras parecem os menires de carnac, uma experiência cultural que agora é minha. estou sendo sincero quando digo que não suporto a tensão do continental penetrando o insular. [telurismo às avessas] lembro das pontes de minha infância, entre o fim e o começo de qualquer algo, minha pequenez caindo na água rasa. as cítaras que os argentinos vendiam como cimitarras: o som e a fúria, o silêncio e a morte, o ruído e a música de vida. se eu soubesse te explicar como é friccionar as fronteiras, lavar as mãos marcadas e o rosto cansado. há um perigo imenso em inventar as respostas para caber nas perguntas não inventadas. estou sem forças e tão triste. também tenho medo do que vai ser. daqui a pouco, as mesmas quatro horas do mesmo dia de amanhã. uma dobra, uma prega, a barbárie para dentro da cultura de um corpo, coração.

2 comentários:

Alberto Pereira Jr. disse...

triste desunião que sobrepuja os bons e liberta as vis almas...

qdo não se há perguntas.. as respostas parecem prontas não é mesmo?

Prof. Hugo! disse...

oi, queridão.
quanto tempo não passo aqui.
essa carta me deixou um quantidade razoável de dúvidas...
queria voltar a conversar com você com mais frequência. anda muito ocupado com o doutorado, querido?
beijos saudosos.

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