dear,
(está tão tarde e nem sei porque escrevo)
eu não sou mais o convidado desta festa. sinto que estou caminhando entre cordeiros muito brancos e leões muito famintos. quase como se eu me resumisse a um versículo bíblico, criptografado e interpretado por poucos. e então eu finjo te conhecer e você finge me desconhecer por completo. é quase um acordo mútuo do qual não arrisco discordar. um dia me disseram que quem teme sofrer, começa a sofrer o que teme. parábola, palavra, paradeiro meu e teu. espero que tudo fique bem, embora precise ser dito que ultrapassamos há muito tempo o limite que nos separaria. e muito antes que você soubesse, o medo todo transmutou-se em aceitação incondicional das coisas. somos dois estranhos que se conhecem e nunca adivinham qual o próximo gesto do outro. nem ao menos cruzamos os olhares com simpatia ou a ternura dos velhos dias. quase sempre é apenas um encontro ao acaso nas escadas ou nas calçadas, um telefonema educado, a boa sorte que não serve mais. e uma presença que também não serve mais. talvez deus não venha fechar as bocas dos leões, talvez eu seja o culpado, talvez o cordeiro imolado. de um par de asas eu vejo meu lindo salgueiro, meu chorão, me vejo lá embaixo olhando uma última vez para o riacho. oh river, run me dry. terminaram, rei, as nossas crenças no futuro.
...no more candlelight
no more romance
no more small-talk
when the hunger's gone...
(escrevo porque sei que é tarde demais. escrevo porque é o fim da tarde)
Um comentário:
somos dois estranhos que se conhecem e nunca adivinham qual o próximo gesto do outro.
parece um fim. não adivinham porque não esperam. não existe mais esse tipo de preocupaçao e a vida é levada adiante. como se ambos nao existessem.
me levou a pensar assim.
até.
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