22.2.08

a grande muralha



dear,

faz tempo somos dois estranhos que se conhecem e nunca adivinham qual o próximo gesto do outro. pode parecer um fim para você. também o começo de um tempo áspero e um pouco sem sabor. um pouco parecido com a cumplicidade dos embrutecidos pela ausência permanente das coisas e dos seres. compreenda que esses dois estranhos, que somos eu e tu, não adivinham os rostos íntimos porque não esperam nada deles. não existe mais esse tipo de preocupação e então a vida segue, os dias seguem, o mundo segue. um pouco como se nós dois já não existíssemos. talvez como se não quiséssemos mais existir para mim e para você. seria melhor suspender temporariamente o que já estava em suspenso e abastecer o avião que sobrevoa o espaço. estou cansado de correr com os lobos, pois não sei quando houve alguma felicidade ou êxtase que não fosse decepção. lá fora existem deuses e monstros, ambos em um só corpo. o deus monstruoso. o monstro divino. as palavras que eu disse são suas. as cartas que eu escrevi são suas. faça com elas o que bem entender – publique ou disfarce nossa pequena história romântica. apenas não desfaça a promessa proibida de nunca me esquecer pela estrada, de nunca lembrar que minha pele é sua pele, de nunca recordar que os meus pêlos se arrepiam minutos antes dos seus. eu acredito que a diferença entre o que é saudade e o que é ausência chega a ser brutal. amar sem sujeitos ou objetos convoca um discurso forçosamente intransitivo para perto dos meus ouvidos. não consigo acreditar na parte sonora que não me toca, embora o fogo me toque como uma ópera em chamas. está ficando tarde para um verbo pela metade. quero tudo de novo e melhor, mesmo que eu já esteja magoado por conta da covardia. então me envie um papel cheio de seiva e um coração repleto de raízes para que eu sabia muito bem onde estamos (sem a grande muralha).

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