10.3.08

o pássaro de fogo


dear,

eu preciso esquecer o que houve antes. ao menos rasurar o que não se pode desescrever. com tinta indelével o desejo deixa suas linhas na pele. no entanto, preciso inventar as linhas de fuga, o olhar perdido e o coração que se esconde. tenho sonhado acordado o tempo inteiro. estou perdendo um pouco a fala e me enchendo de silêncio. bem verdade que quando estou contigo - apenas contigo - os lábios quase não se mexem e tenho tanto medo. demorei para encobrir aquele passado que não tem mais abrigo agora que retorno aos teus pés e inteiramente grato. roço de leve teu corpo no meu e o desejo escreve outras cem páginas de conto. quase descrevo que o amor não tem causa, apenas o efeito suspenso, uma falta de ar, um olhar sem graça. de ponta cabeça no trapézio mal reconheço teu corpo em pé: mas conheço que mora lá dentro um pássaro de fogo, incomunicável e proibido. por isso as ruas me enchem de sonhos. os quartos me enchem de sonhos. os travesseiros, então, afundam minha cabeça no teu dorso, quase me fazendo sentir o gosto de um abraço teu. e de repente, sem aviso prévio, as estações de rádio estão fora de freqüência e os trens já partiram com grande distância e trepidação. talvez seja porque o coração se acerca das vizinhanças de um monumento de pedra, de um monolito ou de um mausoléu. talvez porque seja impossível atingir o lado de lá. ou talvez porque o caminho seja cego para um corpo tão cheio de fome. por ora vou recolher os rascunhos e os ensaios de beijo. por ora preciso esquecer o antes e me acostumar com o agora: a janela aberta e a mais ansiosa espera pelo vento.

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