9.4.08

carta de euforia.


my dear,

o desejo é um ato. o amor é um ato. também pode ser the wonder, a maravilha, o monumento de pedra maciça, de aço escovado ou de mármore polido. mas eu esvaziei os patos de borracha. eu esvaziei os banhos de imersão. eu me esvaziei do pathos que me afundava até os ladrilhos. de longe e logo verá que perdi o brilho dos olhos e que as bolhas de sabão sobem alto. depois que perdi o medo e me lancei numa queda à francesa, eu posso ser a nação e o oceano. há praças de guerra dentro de mim, praças cheias de fúria e água salgada. nelas uma multidão marcha e nada em busca do gozo. então eu retomo o governo do corpo, não olho para trás, não ouço seu evangelho. não é mais meu deus nem meu diabo. eu estava tão cego que não pude ver o quanto seu paraíso não era o meu. e isto é menos que uma carta de alforria: não estou apenas me libertando do afeto que me prendia, estou descobrindo eu mesmo deus, cercado de pássaros, de beijos e de querubins. ainda assim estou iluminado por uma euforia e uma lucidez melancólicas: perdi o objeto amado, não morto, nem machucado, perdi o significado de amor que o construía. embora eu nem saiba quando se perdeu, adivinho bem que a teu corpo nunca pertenceu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Uso legendas, no lugar de perder leio jogar fora. Pelos gestos entendo um querer de afastar mais.
Talvez seja só literatura!

Binho disse...

Lindo, simplesmente lindo seu texto.

Anônimo disse...

perdi o significado do amor...,
estava tão cego que não pude ver o quanto seu paraiso nunca seria o meu.

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