9.9.08

carta para as marés


my dear,

eu demorei a voltar, eu sei, mas é porque desta vez eu fui longe demais. e precisei desaparecer até que eu fizesse o caminho contrário e desfizesse essa marcha errante, tingida com a insígnea contrária de um cigano. me perdoe tanta ausência e tribulação. tenho mais culpa do que medo. saiba, contudo, que a ausência é a parte que mais toca fundo na alma, que faz chamar & chamar um corpo à deriva. ainda mais para quem foi até o fundo e quase não soube voltar, pegar o ar, interromper o mergulho, colocar a cabeça para fora. dear, eu quero perdoar também a mim, pois vi tanta escuridão onde não era o plano. e quase a derrota e o fracasso ocupam o lugar do que deveria ser um trono cheio de glória e amor intenso. juro que não perdi essa parte boa, a mais delicada e aveludada que tenho. as ranhuras, as rasuras, a rispidez dos pecados de seda, porém, me mostram que estive vestido apenas de carne e pele. sem escudos, brasões, luz, um corpo no escuro, e era tudo. me perdoe por não ter sido eu mesmo por tanto tempo. não foi por falta de aviso. ultrapassei o limite sim, por querer, por pensar ser mais fácil e melhor do que enfrentar o muro das coisas com a mesma cara. nem queria saber o que havia do outro lado. estive tão longe. era o fim.
mas meus pés conseguiram me dizer 'isso é tudo' para que eu levantasse o rosto e seguisse em frente. ou para trás, se era para antes da fronteira que eu precisava voltar. agora as coisas todas estão voltando ao lugar, tímidas, mas as mesmas de antes. o coração, na verdade, está mais exigente. e tão inseguro. como se o mais importante não fosse acreditar no que existirá, mas no que existe ainda. e eu, agora, sou tudo o que pedi. o que perdi e onde me perdi não era meu. estou pronto para entregar a versão mais pura do meu aprendizado e, nesse sentido, só a cura do amor pode me dar outra tranquilidade. apareça na minha porta, me mande respostas bobas de coisas que nem perguntei, retorne as chamadas que nem fiz. isso é o amor, a surpresa do amor. estou precisando de um susto e de um colo macio. dear, quando souber, por favor, quando souber de mim, do que sinto, se aconchegue o mais próximo possível, pois estou sedento e tão meu neste momento inteiro.

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