22.9.08

the second end.


honey,

as coisas estão difíceis. de constrangimento e de timidez se enche a sala, pois não temos mais o que dizer. talvez nem antes houvesse, só eu que não sabia, inventor que fui do improvável. percebi ontem que não me interesso realmente pelas coisas fúteis que cultiva, desde a última moda dos seus sapatos aos programas chatos de tv. nos últimos dias, na verdade, é quase um conforto ver você zapeando os canais, à cata de algo que disfarce o silêncio e o mal estar desta sala. quando não posso mais, me levanto, e vou embora para outro aposento, outras caras, outro som. ouço com atenção o último cd de trip-hop que vazou, releio a última frase de baudrillard, me perco na idéia do último artigo. todas as coisas das quais não gosta e das quais nunca virá a gostar. achei o encontro de escritores um fracasso sim, mas você nem prestou atenção quando eu disse, nem sabia o que eu fazia de quinze em quinze dias, quase o final de semana todo. eu me sentiria homenageado se o texto que eu tivesse escrito para alguém decidisse minha aprovação de gosto e literatura em algum lugar. mas me desculpe, você não gosta dos livros, os prefere quietos e fechados. quando muito lhe agradam as versões populares do cinema. e só. foi dolorido descobrir que as cartas que enviei nunca foram abertas, guardadas na caixa branca, o laço cinza ou azul mimoso por cima. pensei que a terapia fosse ajudar. a sua, não a minha. quando disse que seu universo andava muito preto-e-branco, a terapeuta perguntando quem segurava seus lápis de cor, não pude deixar de rir e imaginar que infantilidades não contava a ela. e eu, por esse tempo todo, sendo tão ingênuo e inseguro por absolutamente nada, uma criança com medo da última história de terror. vai ver por isso eu fazia de tudo para que segurasse minha mão, a fim de me sentir seguro durante a noite, ao menos quando não estivesse às voltas consigo mesmo. mas a noite não veio, a mão não veio, nem a segurança, nem o que eu fiz teve retorno. nem sei como aconteceu, mas depois daquela sua grosseria gratuita, meu deus, nem soube o que pensar (outra hora relembro o fato se você não pôde). percebendo qual trânsito fazia entre a preguiça e o egoísmo, não pude deixar de me perguntar: ' foi por isso que agitei meu coração?'. fiquei gastando quase vinte dos meus anos, pura experiência corporal, para que você se enchesse de amores por alguém com quem travou conversa por vinte minutos? eu me rebaixei, sofri, chorei, corei de vergonha também. e para que? não estou com ciúmes, de modo algum, veja bem, meu bem, eu quero mesmo é que seja feliz (um desenho cheio de canetinha hidrocor, se quer assim). da primeira vez pensei que tivesse sido o fim, ao menos deixei de esperar pelo que não vinha e por aí vai, engolindo em seco seus outros amores e as histórias pra contar. procurei fazer da minhas também, fazer birra, pirraça, festa. o problema era minha necessidade de ter que me explicar o tempo todo 'não, não, não gosto mais de você, manifestação de carinho é só de amizade, não entenda mal'. depois vinha a dor de cabeça e o medo de você estar achando que...agora não importa. queimei o filme, o seu filme, as suas fotos desapareceram da minha pasta, de dentro dos livros e do fundo do armário. incomoda um pouco quando, depois de um abraço, seu perfume fica me acompanhando por um par de horas, o que dá a impressão de noite dormida junto, seguido da demora do cheiro nos móveis e nas roupas de cama. troquei as músicas do bolso porque todas se pareciam com trilha sonora de filme, o que me fazia inventar curtas e mais curtas com nossa história, e, inventando mesmo, tinha vontade de chorar. depois de ontem nem sei porque eu me animava tanto com qualquer uma de suas demonstrações minimalistas de amor. para certas coisas não vale aquela sua frase favorita de que menos é mais (para dizer a verdade, não acredito que ela sirva para alguma coisa). mas como eu ia dizendo, não aconteceu nada de mais no último domingo, foi como um dia qualquer, cheio de tédio, sono e ansiedade. o lance é que fui somando as coisas que me irritavam nas últimas semanas e ontem, especialmente ontem, não senti necessidade de agradar você. entendi com enorme lucidez que o maior fracasso seria o depois, a descoberta que faço agora, dos nossos mundos pouco possíveis. a existência da zona de contato fadada a estar desse jeito: nos finais de semana, nas noites cheias da mesma música, nos copos cheios de vodka morna com coca-cola. por isso as coisas estão tão difíceis, pelo menos quando o final de semana não nos salva, não preenche o vazio que ficou após o desaparecimendo completo da paixão. resolvido o criptograma, me sinto mais livre, menos em dívida. então não preciso mais me reinventar para que goste de mim, nem deixar de gostar das coisas que não gosta só para me aprovar. daquela sua solidão lounge, de tv em diante, estou sendo eu, eu sou eu, eu sou o eu. então sejamos felizes do jeito que cada um pode e, acima de tudo, com quem pode. desculpe se vou deixar um pouco de bajular seu ego, de dar atenção às criancices de antes e às dores de cotovelo de ex, me perdoe se eu parecer desinteressado a ponto de ser grosseiro. na verdade estou mesmo perdendo o interesse, mas me perdoe se eu o tiver perdido sem aviso prévio. estamos diante do fim, pela segunda vez. nesta cena, contudo, o camera man não me olha de novo, não faz reprise nem take dois. this is the end, my friend. então a última da trilha pode ser ouvida: goodbye my lover, goodbye my friend.

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