21.1.09

like hiroshima ash


A radiação dissolve meu corpo
E engole aquelas línguas
Que lambiam a tua japonesa
Espada de haraquiri
E os dragões ensangüentados
Do teu coração de fogo.


dear,

eu exigo que deus me dê o equilíbrio do mundo. será que sua onipotência não consegue me ouvir debaixo dos escombros? a mudez do mundo é uma mentira. a bondade de deus é uma mentira. e você sabe muito bem para que servem as mentiras. ouviu um punhado delas e nem quis saber do que eram feitas. e agora estou aqui, no mesmo quarto de tempos atrás, esperando que a radiação engordure o corpo do texto e reduza a sombras o que foi dito antes. sobretudo o que não é meu, o que é dele. fico esperando que evapore numa rajada de vento de cinco mil graus celsius, no ar, no cais, no asfalto, no jardim diabólico, ele. é um inferno o rastro que provoca as línguas de fogo, ferinas, feridas de miséria. mais dolorido é saber que fazem jazz no holocausto enquanto eu vou blue. daqui de dentro ainda vejo a enorme fumaça, as toneladas de urânio, as carcaças da mente. as caixas de correio estão cheias de monóxido de carbono. sem reclamação. você estava certo: o inimigo é o único que não trai nunca. e você foi traído pelo o quê? íntimo, o inimigo, o signo do rato, a cara igual a. fiquei propenso ao sadismo por horas. depois que vi abraços ao invés de beijos no teu último bilhete, então, deitei os olhos para o mundo. desisti de deus. em seguida cruzei a madrugada no navio da insônia. os olhos estavam abertos, os lençóis me sufocando, me oprimindo. the sheets grow heavy as a leacher's kiss. comecei a afundar numa luz mal-cheirosa que me afogava e me transformava no objeto abjeto do convés, no local da indiferença. eu usava uniformes imperiais, quepes e medalhas da marinha. e deitado no assoalho do navio, descascava os travesseiros como se fossem nozes, para depois agarrá-los como rochas, turfas e crinas de cavalo. eu não sabia nadar e a água em volta de mim me escurecia e me petrificava de medo. a cor era viscosa e negra como o petróleo, como deve ser a cor do amor, aquele que diz ter por mim agora. olhei de novo para aquele vazio de deus e soltei a voz. voiceless. o paraíso nunca termina de acabar.

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