11.4.09

retorno


dear,

estou um pouco cansado hoje, então, por favor, me deixe. não quero falar nada em especial. só trago as palavras pescadas no mar de sargaços: areia. relincho de cavalos marinhos. pirataria. cracas. quase coleciono no meu bolso palavras de montar. as peças são feitas dos verbos que afundei ou afoguei na beira da praia. consegui purificar meu corpo desde a última estação, o que me parece verdadeiro já que nem desejo olhar para a janela de trás. é verdade que esgotei minha energia interior, mas agora vejo os calendários, as toxinas, as crises agudas de nervosismo misturando-se com alguma graça à fumaça do comboio. fechei a cortina e não quero mais ver a paisagem. encher a linguagem de sangue toca fundo, penetra nos ânimos, acende o ardor das feridas ao mesmo tempo que as calcina. estou tão cansado que nem consigo chorar. a vitória é sempre motivo de choro. a alegria nada tem a ver com estas feridas mortais do guerreiro. nem não importa. estou tão cansado esta noite e mais tranquilo por estar de volta à ilha. de cortinas fechadas, ainda percebo que desta vez a sede será diferente. sacia-me. devora-me, mundo. estou pronto e renovado.

[imagem de edward hopper, ilha de blackwell, 1911]

Um comentário:

Guga Rebouças disse...

senti saudades dos seus textos.
dear, honey e agora coração, meu amor, carta, você.
estou atrasado.

mais surrealista do que sempre.

saudades, Possuidon.

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