26.8.09

relinchos

corazón,

a carne deu a volta em torno do homem que sou. há uma potência do desejo, uma latência profana. vertigem de ventos e arrepios. vertigem do hálito atrás da orelha. ouriçar da língua na dobra do pescoço. eu sei: faz muito tempo e ainda estamos aqui. nos olhamos em cada imagem que cai no abismo. também em cada palavra rasurada e agora proibida. mas antes de tudo e do nada veio esse som de ecos, um travelling, um galope. são meus cascos riding, riding the reader. é o cheiro da crina que sente em mim. deve ser. talvez seja. o cheiro do amor transpira. o animal. qual vontade não sobe da poeira, qual poeira não esconde o que é verdade? pois a linguagem superou a coisa da carne e limpou o corpo do homem. entretanto: fez-se um jogo sujo e esconderam relinchos no corpo do texto.

2 comentários:

Dan Oberdan Piantino disse...

"a linguagem superou a coisa da carne e limpou o corpo do homem"
.
Não é a primeira vez que você usa essa imagem de um corpo limpo pela linguagem. Como contraponto, ofereço minha "Carta não Branca".
http://osescritoresinvisiveis.blogspot.com/2008/12/carta-no-branca.html
Tal como um desenho a nanquim com pincel, o corpo de um texto pode ser apenas sujeira bem distribuída, ou a beleza do que permanece intacto ao não ser tocado pelo pincel. Seria esse o desdobramento?Primeiro busca-se o ideal de um corpo-linguagem, depois encontra-se a poeira de tanto sentimento jogado ao esquecimento, outra forma de dizer literatura, e, por fim, tal corpo Frankstein ("a carne deu a volta no homem que sou") é um relicário dos desejos do homem-cavalo-animal-símbolo. A pergunta que não quer calar: Não é a partir do "jogo sujo" que você encontra o efeito de suas incorrespondências? Estaria disposto a abandonar o jogo para sujar-se de humanidade?

tiago sem h disse...

Este texto me fez lembrar a poética de Hilda Hilst, de quem gosto muito. As imagens que expressam esse desejo animal simbolizam, a meu ver, o suplício no cerne da carne humana, que emerge ora em forma de suspiros abafados, talvez proibidos, ora em forma de palavras... a carne se faz corpo no homem ou no corpo do próprio texto.
Para mim, esse blog se parece com aquelas cartas que não chegam, pois nunca saberemos exatamente o que se esconde no jogo das palavras de quem nos envia suspiros ou juras de amor. :)

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