6.1.10

cotton

my dear,

o último meteoro calcinou a carne nas bordas da janela. era fascínio, cegamente. eram vozes velozes no impacto de dente contra dentre, no roçar das mandíbulas, no mordiscar dos lábios rosados. poderia ter ficado um mínimo rastro de estrela, além das fagulhas, nada ficou. depois fiquei esperando por horas que alguma coisa voltasse, que o mundo abrisse algum acontecimento para mim, que o coração não me deixasse em branco. sim, dear, acho que estou me acostumando à solidão. os pratos na pia já não me incomodam, durmo tarde da noite, como mal, demoro muito no banho, ouço música em fones de ouvido. acho difícil encaixar minha rotina nos afazeres de outra pessoa, acho difícil você me contar todas as verdades por contar. o misterioso era para ser mesmo você. só que eu prefiro o papel da sedução que o do enigma. por que não me engana com uma conversa macia, uma conversa fiada qualquer? estou me repetindo nos últimos recibos, pedindo as mesmas coisas, rezando. tem me ouvido? pensei que fosse você no revéillon, fazendo reviravolta de toda correspondência, colocando em pedaços tudo o que creio. me dei conta que eu mesmo coloquei tudo ao avesso, desacreditei do que eu queria lá no começo, troquei a leveza por um terço de nada. por isso encostei a cara no vidro, com o descuido de um gato no quinto andar, e pensava em coisas assim: por que por que o encantamento não me trata no algodão? que foi feito do último pedido meu para a estrela que caiu?

4 comentários:

Anônimo disse...

já estava ansioso por mais um texto seu. as horas passavam, passavam e nada era escrito. valeu a espera. belo texto!!!

honey disse...

uau.
uau.
uau.
fantástico!

Anônimo disse...

Envolvente e emocionante..

Gabriel disse...

Lindo. Sem mais palavras.

Pesquisar o malote